1:34 AM

Paixão de Outono III

Noite, noite, noite! Que me reserva esse lindo céu de outono senão esta sensação de fim do dia, do Sol poente. É que a Lua nova do outro lado já se pôs a alguma horas. A Lua envergonhada escondeu seu rosto com medo de minha admiração. Meus dotes de rapidez cedidos por meu pai me fez correr em direção à Terra, protegida da Lua, e daqui contemplar tamanha beleza. Deixei minhas sandálias, meu capacete e finquei o caduceu no monte da esperança pra que assim quando surgisse no Leste soubesse que estou aqui à sua espera. Nada comprova que retornará daquele lado, nem tampouco que de nova ficará cheia e sorridente, mas ontem enquanto observava o céu vi uma estrela cadente. Fiz um desejo que surgiu profundamente deste corpo humano e com o dom que Apolo me concedeu, acredito que ressurgirá lá no horizonte.

É só mais uma história! É só mais uma! Eu aguardo sua vontade, doce Lua, de se apresentar de novo a mim do outro lado, mas que história é essa de correr friamente sem nem me avisar. Ainda refletia meu olhar quando agachei pra descalçar e num instante corria através dos jardins rumo ao chão do mundo, onde foi parar? E foi nesse esconde-esconde que eu aprendi a gostar. Antes até tarde correndo eu ficava, mas agora paciente eu acredito que de lá ressurgirá. É só mais uma história, e é nessa que decidi me escrever. Vou dando contornos à minha forma humana e o medo de não escapar. Que importa se os deuses riem, se eu posso contemplar. Mas pra quê? Eu não quero contemplar! Não quero só mais uma história, quero que juntos possamos escrever essa história do mundo, um mundo que quero estar.

Cada passo que dou no monte me remete à lembrança de quando passou por este céu e Zeus bem sabe, pois acima está pra me resguardar. Mas sai daí seu velho encrenqueiro que a Lua está pra passar! Eu vou correndo vou correndo e corro até cansar, essa Lua aí de cima de brincadeira deve estar. Mas que Lua? Já foi! Lá embaixo agora está. Lua sapeca que gosta de brincar. Era paixão de outono, mas que insiste em ficar.

Lua venha cá. Não se esconda não. Eu sou Mercúrio e me fiz homem pra que pudesse me enxergar. É só uma história, todo mundo que lê sabe que é uma história. É uma metáfora de um sujeito apaixonado, isso é coisa de poeta? Poeta nada, eles mentem. É coisa de gente que sente. Sabe aquela pessoinha que fica ali sentada de olhar vago e olhando pro infinito? É, meus senhores, riam, riam seus palhaços engraçados, pois uma dia sentarão no banco dos bobos, das borboletas, dos cavaleiros, das princesas e as abelhas anunciarão com suas trombetas : -Lá vem o bêbado apaixonado!

Um belo dia o poeta vagabundo bebeu a poção mágica e perdeu o rumo da história. Que isso? Desejos, malditos desejos que vem e que vão. Senhor poeta não se esqueça de escrever que aquele rosto da Lua é a princesa acorrentada. À direita os leões, à esquerda a criança e o poeta destruidor-criador anuncia aos palhaços sua nova descoberta: - Lá vem o bobo da corte. Todos olham e se perguntam: Onde? Aqui meu povo, eu rodopio e faço cambalhotas só pra animar a princesa. Mas a princesa acorrentada ele nem sabe se o verá, ele mantém a esperança que a Lua o anunciará.

Lua azulada no céu reflete o olhar do poeta que no mundo da fantasia roubou o espírito dos deuses só pra anunciar a sua chegada à princesa: - Querida princesinha do meu coraçãozinho, isso tudo é balela e o que importa é sentir. Onde estão as correntes? Onde estão os atores desta peça teatral, pois é tudo encenação pra mostrar à bela moça:

Que de um sorriso brotou uma afeição. Do seu abraço uma grande emoção. Do seu olhar uma palpitação, meu estômago, meu estômago dói e não é de fome é da sede! É da sede de conhecer alguém que mudou o rumo certo da vida, e pra que quereria o rumo certo se no caminho errado eu descubro o mundo? Eu te quero porque é de graça e neste estado de graça, onde a Lua brilha feita louca, ah! eu curto a mariposa que descansa na parede à minha espera. Eu que tenho sido cômico, me transformei em piada só pra que me notasse. Eu que só queria um ombro pra dormir duma amiga sorridente, me vi no ombro amigo da garota serena que transformei em Lua, em princesa e por último a pessoa que gostaria. Eu que era bobo da corte me fiz deus pra que na boca maldita do poeta demonstrasse essa paixão de outono.

Não, não me digas tu que me enamoras porque não tem graça, eu quero que fiques aí bem parada só pra ouvires e auscultares meu coração. Quando a lua voltar do lado de lá, aí sim sorrias e venhas aos meus braços e digas o que sentes: - Gostar é maltrapilho, é vagabundo e preguiçoso, se não der um tapa antes não descobre o que é charmoso. Arritimia, arritimia, arritimia! Cafeína! Arritmia!

Tum! Tibum, num enfarte o poeta palhaço morreu de tanto querer, mas agora sua alma é carregada pela Lua pro lado de lá.

ALMA: -Dou risadas, dou muitas risadas: A vida é engraçada.

D.F.R.

1:34 AM

Paixão de Outono II

"Deveria ser uma história o que escreverei, mas como escrever algo quando as sensações tomam meu corpo de forma descontrolada. Não posso resistir ao sorriso da bela Lua crescente, no horizonte, ascendente. Que Zeus saiba urgentemente os fatos da terra de meu corpo. Como escrever quando preciso sentir e ao sentir esqueço o que escrever, pois só quero sentir. Não quero escrever que vejo todo o universo estrelado ao infinito e mesmo sem contá-lo, posso senti-lo. Acaso já sentiu o universo inteiro? Basta querer alguém, posso querer a Lua? Ah, noite, mostre sua beleza, o olhar do universo noturno aqui na Terra. Porque não posso querer outro ser além da Lua, nela descansa minha paixão deste outono. Eu sempre soube que amá-la seria me sentir desta forma. Eu sempre soube que senti-la seria estonteante. Eu sempre soube que poderia caminhar neste labirinto em forma de reta infinita rumo ao seu coração. Eu sempre soube que quereria um beijo apenas. O céu anuncia sua majestade.

Deveria correr com as asas de meus pés rumo àquela alma dos céus, mas tenho medo que assim como Ícaro, aquele olhar derreta minha alma. As outras estrelas já se perderam em redor da Lua e na Terra eu anuncio a todas as criaturas: Lá vem a Bella Luna!

Eu, Mercúrio, cairia na Terra somente para admirar essa visão, de uma Bela Lua. Que Zeus, cronida-rei, entenda o domínio de Eros em meu peito. Que criatura atrevida! Incendeia Cronos e domina o tempo por um instante, o instante em que a seta luminosa carregada daquele olhar da Bela Lua caíra sobre meu peito. Mas agradeço irmão, mesmo que a desgraça seja fruto seu, eu arrisco me atirar aos braços dela.

Oh, Bela Lua, salve-me deste mundo, pois sou mais um ser caído. Leve-me de volta aos céus para descansar ao lado seu. Eu admiraria eternamente neste outono olímpico toda a beleza que descansa em si. Desejos, desejos, desejos! Onde estes malditos desejos me levarão, oh, Bela Lua? Que seja qualquer lugar onde possa minha alma lhe observar. Deixe-me querer, deixe minha alma guiar meu corpo se eu estiver em seus sonhos, se eu for o escolhido. Paixões, paixões, paixões! Quanta estima faço desta paixão de outono. Quanta loucura descubro neste sentimento de homens, eu os invejo.

Que melhor descrição poderia fazer de seu sorriso, enquanto seus olhos se fecham empurrando toda alegria da alma, além daquela na qual não descrevo. Não descreverei seu sorriso. O que existe na necessidade da descrição de uma breve paixão? O que ocorre diante do olhar emocionado? A mais bela flor de hoje surgiu num instante preenchendo meu coração de alegrias. O que fazer quando a Lua caída dos céus passa diante dos olhos e seu magnífico brilho me atrai de tal forma que não posso recusar? Uma breve paixão de outono onde os encaixes de uma idealização se tornam vívidos e quase completos. Onde inicia a completude? Uma imagem deste outono olímpico que surge na vida expondo minha fraqueza? Ah, mas que fraqueza traria tamanha felicidade que quase arranca meu coração pela boca.

Atraente Lua que transforma meu corpo em simulacro de marés, que faço para que diga meu nome de forma carinhosa? Por que é tão bela e resplandece todo esse rostinho que quero me aproximar? Quando foi o momento que me deixei cair em seus braços formosos e senti o desejo de termos um ao outro? Existe sabor mais singular que o desejo de seus beijos? É uma representação de meu corpo sentimental neste outono diferente. É muito bom sentir essa vontade de estar ao seu lado e simplesmente sentir um abraço seu. Quero apenas admirar seu sorriso.

Sorria pequena Lua. Faça-me sentir estes calafrios e sentir que estou muito vivo. Esta é uma breve paixão de outono que despertou a necessidade de escrever. Apenas quero deixar o registro para provar ao futuro que paixões de outono existem e mesmo que terminem apenas neste movimento do discurso, foi ótimo tê-la em minhas imaginações. Melhor seria se tudo isso acontecesse de olhos abertos admirando estrelas e uma cadente anunciasse o começo de um beijo de outono que tão logo não cessaria.

É assim Bela Lua que reflete em mim toda essa sensação. Já a conhecia de muito tempo, pois tem em si muito do meu querer. Ah, Zeus, como é engraçado sempre me colocando nestas situações, mas faça seu trabalho.

Era somente uma paixão de outono. "

D.F.R.

1:30 AM

Paixão de Outono I

"Era uma história muito simples que poderia acontecer em qualquer coração. Qualquer ser que sentisse o tempo passar vagarosamente, o espaço oferecer o universo como possibilidade de caminhar, qualquer ser que sentisse calafrios espontâneos, que sentisse frio na barriga, o coração bater rapidamente querendo pular pela boca, que sentisse o suor das mãos deixando-as gélidas, qualquer ser que sentisse a sensação de uma canção dizer tantas coisas, entenderia o sentido desta história. Era uma história de quando Mercúrio e Lua entraram em conjunção num movimento tão forte e atraente que fez Mercúrio confundir seu movimento em torno da mensageira do mistério. Mercúrio, então, sentindo todas aquelas vibrações reflexivas e agindo como a abelha que segue voando em direção à margarida mais linda já vista, convidou a bela Lua para ver a imensidão do espaço e beleza das estrelas e dos cometas e dos planetas. E a Lua foi o mais belo exemplar jamais visto, pois seus olhos, seus lábios, o contorno do rosto, seus cabelos, sua expressividade, seus ouvidos receptivos, sua fala doce, juntos todos formavam um conjunto jamais visto.

Subiram no topo do mundo e lado a lado observaram o maravilhoso céu escuro. Mercúrio envergonhado pediu a mão da Lua para que juntos observassem com mais energia e conhecessem sentimentos novos. A lua sorridente tornou-se cheia e transbordou paixões. Os dois voltaram seus rostos e Mercúrio hipnotizado pela profundidade do olhar da deusa da noite, sentiu o desejo incapaz de conter, beijar suavemente os lábios da Lua, apertar suas mãos e num abraço selar a união de duas almas que descobriram como se completam. Como puderam ficar tanto tempo desconhecidos um do outro? Como puderam deixar que o espaço e o tempo os escondessem?

Depois do transbordamento de paixões esses dois seres caminharam rumo ao infinito completando-se mutuamente pela eternidade.

Como é bom imaginar a maciez de um beijo, o calor de um abraço ou um simples olhar. Desejos e desejos, sempre domínio dos desejos e o amor veneno d'alma, fármaco dualístico anima, ânima, visita encerrada num mundo lindo e colorido. Tudo fugindo do meu peito e a bela criatura observa quando uma lágrima de emoção invade meu rosto. Oh Lua, que faz comigo que não sai do meu céu desde quando a vi pela primeira vez. A lembrança de conhecer é porque sempre esteve sob meus olhos e alguém que já era parte do meu querer a mim não pode ser desconhecido.
Seu brilho ficará eternizado mesmo que seja apenas uma história."

D.F.R.