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Política Arquetípica do Brazil

....Há de ser dito que hão defuntos apodrecendo, esperando alguém meramente caricata, caridoso, cardeal, cordial, casto, monge por natureza, longe de destreza, político, paleolítico, mítico, impudico, um palhaço, qualquer alguém como ninguém qualquer, que os enterrem lá no cafundó do Judas, sei lá, na casa da sogra, o lugar não importa, senão o merecido enterro.
....Um jovem do povo ergue-se dizendo que seria ele o nomeado para fétido, espúrio, vil, serviço. Meu caro, caríssimo jovem, pueril jovem, menino, criança, infantil, sem fala, sem razão, sem motivos, não poderia ser você quem faria tal trabalho de porcos, não, assente no seu banco, desfrute da vida, coma, caia de boca nas delícias, brinque, cresça, não, há de ser outro que não você.
....Vejam, meus compatriotas, a nojeira do planalto, aquele defeca, este pisa, o outro senta, aquela ri, nós embasbacados ficamos, aqui, pasmos, asnos de nós mesmos. Pois, claro que alienamos nosso palco, mas quem diria que os atores seriam tão habilidosos, vejam só aquele, encena um Robin Hood às avessas, aquele outro o franciscano mascarado, o fulano ali um vrdadeiro César, vejam como é autêntico, quanta formosura, na roupa branquinha, no colarinho branquinho, que mãos grandes, quanta firmeza, como é cesáreo, assusta-me quase, mas só quase. Tamanha teatralidade encarnando uma tragédia, ao modo grego, se não fosse cômica, pois sabemos que assim é, a comédia da vida pública. Vemos que leram bem a poética aristotélica e como bons imitadores preparam o próximo ato, a surpresa, natureza, vileza, quem sabe. A expectativa expectorante é o que fascina o povo, a plebe, o proletário, o servo, o escravo, o compatriota nosso.
....Um velho ergue-se com dificuldade a bengala, não diz nada. levanta-se, dá as costas, caminha. Vai embora.. Não foi desta vez.
....Nobres colegas, o teatro é nosso, a direção é de todos, os atores somos nós. De que serve o corpo eleito democraticamente se querem cavalgar na periferia, favela, novela dos descamisados, dos favelados, dos pobretões, do resto, dos rebelados. Cadê os rebeldes; libertos, povo brasileiro, do autoritarismo oliva; presos, estudantes, na falsa intelectualidade, improdutivo engajamento de vil academicismo. O teatro é nosso, a peça é velha. A mesma velha história que começa no conto de escola e termina na inaudível discussão, de classes?, não, de interesses continuamente aristocráticos.
....A moça ali no fundo, no cantinho, dá um berro estridente, -Eu posso! Serei eu o levante popular, carregarei os valores do povo, lutarei para as massas!, prostrando-se no meio da sala. Bonitinhas palavras, mas como os outros defuntos, demagógicas demais. Volte, moça, para lá, no cantinho, continue no seu estado de afasia, apoplexia, apatia, aneurisma, como os demais.
....Comapanheiros, companheiras, indefinidos,assumidos, povo que povoa o povoado brasileiro. O estado é de sítio, não é fazenda não. Usurparam nossa identidade, construíram lá para o estrangeiro a idumentária de um Estado de descamisados. Patrícios, irmãos, compatriotas, companheiros, Uní-vos. Se o teatro é nosso por direito, apossemo-nos dele. Fincaremos a bandeira da brasilidade, onde agora será a ursa-maior nosso símbolo, representante do anti-herói brasileiro, as palavras que ressoarão, tamanho usucapião, serão: Afasia Apoplexia Apatia, os males da brasilidade não são. Num uníssono companheiros!
....Uma folha de papel caiu no chão. Silêncio se fez. O cachorro, ouvinte, enfiou o rabo entre as pernas e saiu a galope.-Tudo bem companheiros, serei eu representante de vocês, este que lhes fala. Fez outra vez silêncio.-Que querem, então? Que a putrefação, lá, continue? Que querem, meu povo, minha gente, filhos de Macunaíma?
....-Afasia. Gritou alguém lá atrás.
....-Apoplexia. Gritou alguém do outro lado.
....-Apatia. Gemeu um velho.
....-Os males do Brazil são. retrucou o orador.
....Assim, o povo brasileiro continuou seguro de seu conservadorismo colonial e o teatro seguiu Brazil afora com a mesma peça, entitulada:

"Mítica Política Arquetípica do Café"