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Jardim das rosas de Outono

Hoje quando abria a janela, por um instante o tempo desapareceu. Com o tempo as minhas matematizações dos sentimentos, as equações perderam a razão sem o tempo pra computar. Com o tempo minha razão envergonhou-se de criticar as paixões. Por um instante eu fui todo sentimento porque sentir é interiorizar o externo. A graciosidade da vida soprou meu rosto num instante sem instante. Num instante sem tempo eu pude sentir a eternidade e espaço infinitos.

Avistei meu jardim onde as rosas floresciam ininterruptamente desabrochando num vermelho meus amores. Meus amores eu pude ver passando diante de mim. E o que é o amor senão qualquer coisa que alguém queira acreditar. Eu acredito nos meus amores. Todos eles plantados reverenciando minha alma de amante. Percebi o quanto o amor é um estado onde se quer viver a natureza humana. Tudo que vejo é possível pelos meus sentidos transfigurados de algo que não é além de mim, sou eu. São meus sentimentos os comunicadores desses diversos estados de mim.

No meu jardim quando penso no tempo sempre me esqueço doutras rosas. O tempo é esse vilão da razão que transforma o todo na parte. Por isso quando amei pela primeira vez achei que fosse a última, quando amei outra vez achei que fosse a última, quando amei da última vez achei que fosse a última. O tempo por um instante desapareceu num instante sem tempo. E meus últimos amores não foram meus amores, meu passado transformado de mim, daquilo que sou sem deixar de ser o que fui, foi meu amor meus últimos amores. Porque não há seqüência de amores em quem ama e eu não pude fechar os olhos para os próximos amores, porque não há próximo amor, há o amor.

O amor pode ser compartilhado com o amado. É mostrar ao outro esse jardim de rosas infinito e num beijo lançar a própria vida na direção do outro pra que aprecie juntos. Não é deixar de contemplar seu jardim e viver do jardim alheio. É admirar a beleza do outro e a beleza de si, a beleza da vida. A vida não é de um ou de outro, a vida, se existe, é o compartilhar da natureza humana, é admirar o outro como um eu, esse outro que sou eu, isso é o amor. E o que é o amor senão qualquer coisa que se queira acreditar. O amor é tão grande e tão incógnito quanto a busca de um sentido da vida, e apesar de grande cabe num beijo, num abraço, num olhar, num carinho, mas não cabe em palavras porque amor é atualidade, é sentir e deixar sentir. Sempre será o amor um cálculo errado porque foge da compreensão. Amor pode ser pura invenção, mas é humano e enquanto tal merece ser sentido pra que tenha valor ser humano.

Hoje descobri que sentir o outro é sentir o mundo, é sentir um eu, é acreditar num sentido da vida. E mesmo que no tempo não exista sentido, assim como pode não existir amor, prefiro abrir minha janela e num instante sem tempo observar minhas rosas e sentir que não só vivi, mas que vivo. É neste universo infinito de condições de possibilidade onde poderá sentir porque o tempo simplesmente desaparece quando se ama. Porque quando se beija não se teme abrir essa janela da alma onde descansa um belo jardim das rosas de outono.


D.F.R.