4:31 AM

Temporalidade pueril

Temporalidade pueril


'Papai, o céu é grande'. O céu tem tanto céu que eu fico tontinho. A bola rola, na trave um pardal chaiando. No balanço vou e vou.

A bola rola, no buraco outras tantas. A pipa no céu, o vento varre o coração. Eu corro e corro, pegamos mais um. Pulo e subo a arvorinha, mamãe chama.

Os meus amigos começaram a sussurrar, abrem minhas portas, minha memória. Dos meus gibis sobraram palavras, meu livro posso ler. Meu coração acelera, para, acelera, trava, encolhe, arqueja. Meu eu, meus eus explodem em desarmonia, harmonia que surpreende, supera, se faz, desfaz, refaz, perfaz e eleva-se ao céu, meu eu sou eu, sou grande.

O prazer é o que importa, importo vinhos. Assisto Kubrick, Goddard e lá vem Almodóvar, tomo capuccino. O amor acaba, na esquina, na mesa do bar, no restaurante, naquele olhar onde começou. Dou risada de palhaços, riem de nós, os políticos.

Que é prazer? Que são amigos? Quem foi papai? É à noite deitado filosofando, dialética com mestres, Machado que hoje entendo enterrado em mim Joyce, De Beauvoir e Kafka. A solidão me corre as veias, destrói meu homem em mim, anuncia meu declínio. Ah Nietzsche, realmente existem escritores póstumos, extemporâneos, gênios, realistas, humanos e relevantes que chocam a alma, meu declínio.

Nem mais papai. Nem mais a bola. Nem mais amigos. Nem mais prazer. Somente a dor de saber que quanto mais estou vivo, mais aproximo-me da morte.

'Papai, o céu é grande'.

4:27 AM

Fim do recesso

Até mesmo um velho cego precisa descansar. Voltamos todos do recesso, agora a coisa é TRABALHO.