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Paixão de Outono III

Noite, noite, noite! Que me reserva esse lindo céu de outono senão esta sensação de fim do dia, do Sol poente. É que a Lua nova do outro lado já se pôs a alguma horas. A Lua envergonhada escondeu seu rosto com medo de minha admiração. Meus dotes de rapidez cedidos por meu pai me fez correr em direção à Terra, protegida da Lua, e daqui contemplar tamanha beleza. Deixei minhas sandálias, meu capacete e finquei o caduceu no monte da esperança pra que assim quando surgisse no Leste soubesse que estou aqui à sua espera. Nada comprova que retornará daquele lado, nem tampouco que de nova ficará cheia e sorridente, mas ontem enquanto observava o céu vi uma estrela cadente. Fiz um desejo que surgiu profundamente deste corpo humano e com o dom que Apolo me concedeu, acredito que ressurgirá lá no horizonte.

É só mais uma história! É só mais uma! Eu aguardo sua vontade, doce Lua, de se apresentar de novo a mim do outro lado, mas que história é essa de correr friamente sem nem me avisar. Ainda refletia meu olhar quando agachei pra descalçar e num instante corria através dos jardins rumo ao chão do mundo, onde foi parar? E foi nesse esconde-esconde que eu aprendi a gostar. Antes até tarde correndo eu ficava, mas agora paciente eu acredito que de lá ressurgirá. É só mais uma história, e é nessa que decidi me escrever. Vou dando contornos à minha forma humana e o medo de não escapar. Que importa se os deuses riem, se eu posso contemplar. Mas pra quê? Eu não quero contemplar! Não quero só mais uma história, quero que juntos possamos escrever essa história do mundo, um mundo que quero estar.

Cada passo que dou no monte me remete à lembrança de quando passou por este céu e Zeus bem sabe, pois acima está pra me resguardar. Mas sai daí seu velho encrenqueiro que a Lua está pra passar! Eu vou correndo vou correndo e corro até cansar, essa Lua aí de cima de brincadeira deve estar. Mas que Lua? Já foi! Lá embaixo agora está. Lua sapeca que gosta de brincar. Era paixão de outono, mas que insiste em ficar.

Lua venha cá. Não se esconda não. Eu sou Mercúrio e me fiz homem pra que pudesse me enxergar. É só uma história, todo mundo que lê sabe que é uma história. É uma metáfora de um sujeito apaixonado, isso é coisa de poeta? Poeta nada, eles mentem. É coisa de gente que sente. Sabe aquela pessoinha que fica ali sentada de olhar vago e olhando pro infinito? É, meus senhores, riam, riam seus palhaços engraçados, pois uma dia sentarão no banco dos bobos, das borboletas, dos cavaleiros, das princesas e as abelhas anunciarão com suas trombetas : -Lá vem o bêbado apaixonado!

Um belo dia o poeta vagabundo bebeu a poção mágica e perdeu o rumo da história. Que isso? Desejos, malditos desejos que vem e que vão. Senhor poeta não se esqueça de escrever que aquele rosto da Lua é a princesa acorrentada. À direita os leões, à esquerda a criança e o poeta destruidor-criador anuncia aos palhaços sua nova descoberta: - Lá vem o bobo da corte. Todos olham e se perguntam: Onde? Aqui meu povo, eu rodopio e faço cambalhotas só pra animar a princesa. Mas a princesa acorrentada ele nem sabe se o verá, ele mantém a esperança que a Lua o anunciará.

Lua azulada no céu reflete o olhar do poeta que no mundo da fantasia roubou o espírito dos deuses só pra anunciar a sua chegada à princesa: - Querida princesinha do meu coraçãozinho, isso tudo é balela e o que importa é sentir. Onde estão as correntes? Onde estão os atores desta peça teatral, pois é tudo encenação pra mostrar à bela moça:

Que de um sorriso brotou uma afeição. Do seu abraço uma grande emoção. Do seu olhar uma palpitação, meu estômago, meu estômago dói e não é de fome é da sede! É da sede de conhecer alguém que mudou o rumo certo da vida, e pra que quereria o rumo certo se no caminho errado eu descubro o mundo? Eu te quero porque é de graça e neste estado de graça, onde a Lua brilha feita louca, ah! eu curto a mariposa que descansa na parede à minha espera. Eu que tenho sido cômico, me transformei em piada só pra que me notasse. Eu que só queria um ombro pra dormir duma amiga sorridente, me vi no ombro amigo da garota serena que transformei em Lua, em princesa e por último a pessoa que gostaria. Eu que era bobo da corte me fiz deus pra que na boca maldita do poeta demonstrasse essa paixão de outono.

Não, não me digas tu que me enamoras porque não tem graça, eu quero que fiques aí bem parada só pra ouvires e auscultares meu coração. Quando a lua voltar do lado de lá, aí sim sorrias e venhas aos meus braços e digas o que sentes: - Gostar é maltrapilho, é vagabundo e preguiçoso, se não der um tapa antes não descobre o que é charmoso. Arritimia, arritimia, arritimia! Cafeína! Arritmia!

Tum! Tibum, num enfarte o poeta palhaço morreu de tanto querer, mas agora sua alma é carregada pela Lua pro lado de lá.

ALMA: -Dou risadas, dou muitas risadas: A vida é engraçada.

D.F.R.

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